Professor do Ensino Fundamental -O Princípio de Tudo

O Princípio de Tudocurso em Macaé

 

Acabo de concluir um trabalho para a Itacom junto às Colônias de Pescadores da Bacia de Campos no estado do Rio de Janeiro. Durante alguns meses tive a oportunidade de conviver com uma realidade desconhecida da maioria do povo brasileiro, já que este vive no interior do país e não no litoral. Nessa convivência ministrei ações formativas para pescadores e seus familiares, em formato de 8 sessões práticas de 3 ou 4 horas cada uma, usando 4 computadores e um notebook com câmera, sendo auxiliado às vezes pelo Fabricio Sangregório e outras vezes pelo Luisinho Claudio, um ex pescador que agora tem um mini estaleiro na foz do rio São João.Assoc Mista Macaé (9)

Os temas, baseados na comunicação, passavam por gestão administrativa, financeira, regras de uso de equipamentos doados pela empresa e liderança. Posso dizer que agradeço a oportunidade, que a empresa ficou contente com o resultado e que os pescadores tornaram-se, todos, meus amigos e chego a frequentar suas casas. Mas, não posso deixar de registrar o lado triste da estória. Mais uma vez pude confirmar o enorme abismo que há entre a atualidade e o conhecimento desse público. Mais uma vez constatei a dificuldade de aprendizagem e a consequente formação de algum conhecimento produtivo real. Falta base. Volto meu pensamento agora a algumas ações em laboratórios de ciências, junto a alunos do ensino médio, que realizei em escolas públicas no estado de São Paulo e lembro uma frase do professor Helder Sávio, ex ATP de ciências da Diretoria de Ensino de Bauru. DSC00859“Precisamos capacitar os professores, para haver continuidade” Até que tentamos, mas a estrutura administrativa, na época, não permitiu. Professor Helder e eu, queríamos, quichotescamente, fazer entender o princípio de todos os fenômenos físicos, químicos e biológicos, levando as práticas de ciências para a sala de aula. Era um procedimento bem simples e foi executado em mais de 117 escolas da rede pública de várias diretorias curso 002de ensino. Consistia em treinar alguns alunos em técnicas de laboratório e ensiná-los a montar experimentos usando material alternativo. A seguir dividíamos as classes em oito grupos de cinco alunos, selecionávamos um deles para ser o monitor do grupo, que recebia dos “técnicos” um kit com o material para desenvolver a experiência, incluindo o material, uma folha com o procedimento, uma folha com o resumo da matéria e uma folha relatório.curso 011

Nesta, o professor inseria uma questão que deveria ser respondida após a experiência ser realizada. Os técnicos preparavam 8 kits para cada experiência. Esta era executada em sala, em bancadas improvisadas com carteiras, o silencio era respeitado e o resultado da prática fornecia 8 relatórios para o professor debater o tema da aula. É preciso salientar que os monitores tinham que pegar o material antes das aulas ou no intervalo, no laboratório, se houvesse, ou em um local já determinado. Simples, interessava a todos os alunos e muito eficaz na transferência da informação. Mas, tudo funcionava muito bem enquanto estávamos lá. Mesmo deixando os “técnicos” treinados, com todo o material necessário, o processo não continuava. O interesse dos alunos era excepcional, na proporção inversa da disposição da escola em dar sequencia ao procedimento. Por que será? Se o objetivo era trabalhar fundamentos para dar a base de entendimento em questões mais complexas. Sempre entendi que uma casa começa pelo alicerce; sua qualidade é que vai determinar o tamanho da casa e toda a sua estrutura. Não é possível que não se entenda que o ensino fundamental é o ciclo mais importante de qualquer currículo escolar. Não é possível que não se perceba que o legado deixado pelo professor do ensino fundamental certamente vai afetar diretamente o trabalho do professor do ensino médio. Consequentemente, nunca teremos grandes universidades com alunos sem base. Isto é real, todos sabem disso e acontece há muito tempo. Está na hora de parar de esconder o problema. É preciso olhar com carinho para o professor do ensino fundamental, capacitá-lo o quanto for preciso e remunerá-lo mais e melhor do que um professor universitário. É o professor do ensino fundamental que pode perceber talentos e direcionar a criança, na verdadeira acepção do termo pedagogia. Todas as outras profissões dependem da formação básica. Elas podem ser importantes depois, mas é preciso lembrar que a medicina, cada vez mais, depende de equipamentos; que várias profissões já são substituídas pela robótica e que o computador já pode até mesmo simular um júri real. Mas, a formação de pessoas nunca caberá a nenhuma máquina. Esta formação estará nas mãos de uma outra pessoa; a do professor do ensino fundamental, que são como os pais, só que munidos de um conhecimento que encanta, que ensina a andar bem, como respirar, como entender os textos de qualquer livro e como explicar como as alterações do corpo humano alteram o espírito. É óbvio que o profissional mais importante de uma cadeia educacional é o que atua na base; ele é o principio de tudo na vida de um ser humano. Falta encarar esta realidade e não esconder-se dela. Já passou da hora de alguém acabar com isso.