Eu me lembro das queimadas das matas de Getulina, em 1956.
Apesar de meus poucos, mas já bem vividos, 10 anos, aquelas enormes labaredas gravaram-se em cenas que ainda crepitam em minhas memórias. Lembro, ainda, que era por homens com tochas acesas, nas pontas de pedaços de paus, que o fogo começava.
Sempre no final da tarde.
Grandes árvores e muitos animais desapareciam em questão de horas e eu já percebia uma enorme dor naquele grande espetáculo que procurava se justificar pelo desejo
Lembro também que eram os imigrantes, basicamente italianos, espanhóis e japoneses, que compravam terras com matas de quem já tinha terra, “limpas”, já sem matas. E, coloridos pelo vermelho das chamas, murmuravam ; “é o progresso!”
Pouco mais de dez anos depois presenciei as mesmas cenas no sul de Mato Grosso do Sul.
Floresta enormes sendo queimadas para a chegada da pecuária. A pecuária não cresceu e o café acabou. E o pior, as cidades empobreceram com o tal progresso.
Por muitos locais do oeste brasileiro presenciei queimadas, não só de matas mas de várias outras vegetações.
Hoje, 40 anos depois, passeio pela margem de uma floresta em Casimiro de Abreu no norte do Rio de Janeiro. Vejo as mesmas enormes árvores e os mesmos compridos cipós que pensei balançar como um Tarzã infantil. (Não eram as mesmas, é óbvio). Vejo a mesma delicadeza das pequenas flores e o surpreendente desenho dos liquens e musgos nos caules das árvores e fiquei imaginando tudo aquilo pegando fogo. Quase chorei pelas árvores da minha infância.
Muitos anos depois estou aqui na Região os Lagos, no estado do Rio de Janeiro, atuando na área de educação ambiental.
Percebo, agora, finalmente, uma grande preocupação dos órgãos governamentais com o meio ambiente, ao exigir que as empresas que exploram petróleo e gás aqui na Bacia de Campos cumpram algumas obrigações.
Embora menos conhecido que um de seus órgãos, o Ibama, o Ministério do Meio Ambiente é responsável por essa área no Brasil. Mas, na verdade, é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama, o executor dessa legislação. Acima existe o Conama, Conselho Nacional do Meio Ambiente, ligado ao poder executivo que, através de decretos promulga algumas leis, como a LEI Nº 7.661, DE 16 DE MAIO DE 1988, que Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências e entre outras coisas diz o seguinte:
Art. 10. As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica.
§ 1º. Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo.
Dá para perceber como é difícil cumprir uma lei?
No entanto, o Ibama vem lutando para impedir que a exploração de petróleo e gás retire um recurso natural não renovável de uma área já explorada por outra atividade econômica, a pesca, e não dê um mínimo de retorno aos prejudicados. É mínimo mesmo!
E para a população afetada, o mínimo que se dá é informação. E é mais ou menos isso o que estamos fazendo por aqui, pensando como isso fez falta em Getulina.