NÃO É VERDADE!

A Semente do IpêNo meu tempo, o filho de um pedreiro e o filho do juiz de direito entravam desiguais na escola pública e saiam dela,  no mesmo nível.  Essa foi uma das frases de Alexandre Garcia, um comentarista político da Rede Globo ao falar sobre a educação no Brasil. O tempo dele é o mesmo que o meu e posso garantir que isso não é verdade.  As elites eram mais salientes, impunham as regras sociais, tão sutis como concretas, como a presença das leis religiosas da igreja católica e a obrigação de marchar em solenidades cívicas. Certamente o filho do pedreiro apanhava mais, em casa, do que o filho do juiz de direito. Não se pode dizer que a culpa era do pedreiro, cobrado à distância, pelo juiz de direito para que seu filho tivesse um bom comportamento. E o que podia fazer o pedreiro, se não entendia filosofia, a não ser a imposição pela força de suas vontades?  E o filho do pedreiro, sentado a algumas carteiras do filho do juiz esforçava-se para aprender,  mas nunca tinha a coragem de responder a perguntas do professor porque seus dentes cariados, seus sapatos não tão bonitos e suas mãos já calejadas eram um muro invisível e intransponível. Seus assuntos vinham das poucas  e curtas  conversas com sua mãe, a mulher do pedreiro  e não tinha o que falar, senão o que lia nos livros da escola e ouvia nas rodas de conversas de outros pedreiros.  Diferenças cruéis como tipo de alimentação, qualidade de roupa, nível de entretenimento e acesso a pessoas mais esclarecidas aumentavam o muro. Não vejo muita diferença nos dias de hoje, a não ser que o filho do juiz deixou a escola pública e foi para um colégio particular. O muro já não é tão invisível assim e quando é possível gritar, o filho do pedreiro grita. E o seu grito é tão inútil que ele precisa sair batendo com as mãos, a cabeça e o corpo todo em todos os símbolos que o mantém do outro lado do muro. Podem ser instituições ou prédios públicos, não importa. Ele não aguenta mais.